Duda Matias Brito

Catarina

Capítulo 3

No capítulo anterior, Catarina revela algo ao namorado que não sabe o que fazer. Durante o jantar a jovem relata que não quer sair do bairro. Isso gera uma discussão na qual a adolescente conta que irá morar na casa de Fábio e que ele sabe que tem que aceitá-la. O pai não aceita a decisão da filha e quer saber por quê Fábio tem que aceitá-la.


...— Porque... porque ele é o meu namorado, tem que me aceitar, é obrigação dele. Disse Catarina olhando dentro dos olhos de Fábio.


***
 No outro dia, na escola,
na hora do intervalo Catarina falou com Fábio. — Quando vou poder me
mudar para sua casa? Disse Catarina em um tom alegre.
Fábio não respondeu. — Quando, Fábio? O tom
de Catarina mudou e se tornou ameaçador.
— Catarina, nós somos apenas adolecentes. — disse o namorado com os olhos tristes.
— Novos ou velhos, agora vamos ter um bebê!
— Catarina, fale baixo! Alguém pode escutar. — pede Fábio sussurrando.
— Baixo por que? Um dia isso tem que deixar de ser segredo, ou vai esperar a minha barriga aparacer?
Rita chega próximo aos namorados.
— Olá, casal! Como vai?
A amiga percebeu que os olhos de Catarina estavam brilhando demais e saiu sem falar mais nada.
— Você contou para Rita daquilo? — Questiona Fábio. — Não... Disse Catarina
com a voz trêmula. — Não minta para mim,
Catarina.
da proposta. Segundo Humberto
Schmidt (Superintendente de obras da Serra do Mar) essa discussão entre CDHU e população faz com que as pessoas se sintam muito mais envolvidas resultando um produto final muito bom.
Um dos assuntos que está em pauta nessas reuniões é a possibilidade de construção de equipamentos públicos de lazer, cultura, saúde etc. O Superintendente diz ser uma situação complicada e que deve ser bem discutida para que atenda o interesse real da comunidade e não de um grupo ou outro. Acrescenta ainda que o projeto de urbanização
- Tá bom, contei, você acha que é fácil descobrir que estou grávida, que vou ser mãe? Precisava desabafar com alguém. Porém, meu namorado está agindo como se não estivesse acontecendo nada!

*** 

O sinal toca, Catarina sai
correndo para sala e Fábio fica lá sentado no banco do pátio.
Em sua casa Fábio decide contar para o pai.
— Pai, preciso conversar com o senhor.
— Fala, meu Filho.
— Eu não sei como aconteceu, mas... a Catarina esta grávida. — disse Fábio tão rápido que Rogério pensou ter entendido mal.
— Como? — Catarina está grávida pai. — Meu filho, vocês são duas
crianças. — Eu sei, mas a Catarina
disse que virá morar aqui. — Já?
— É que a casa dela está em área de risco e ela vai ser removida daqui um mês. Ela não quer ficar longe mim, e também uma hora ela vai ter que vir mesmo.
— Sua mãe vai ficar uma fera.
— Eu sei...

***

 Na casa de Catarina as
coisas não estavam muito boas. Quando a mãe passou
é muito complexo,    das discussões. entretanto, a CDHU está    Converse com o agente disposta a dialogar com    comunitário do seu as comunidades.    bairro.
Fique por dentro
O agente comunitário sr. Lopes aponta no mapa as sugestões da comunidade para as equipes de projetos, obras e social da CDHU.
Catarina
Novela escrita por Duda Matias Brito
pela porta do quarto viu que a gorota estava fazendo as malas.
— Catarina, o que pensa que você está fazendo?
— A senhora está vendo!
— Você não pensa que eu vou permitir que você vá morar com o Fábio?
— A senhora não precisa permitir.
— Catarina não me faça sair do sério!
— O que a senhora vai fazer? Me bater? A senhora bateria em uma mulher grávida?

*** 

Na casa de Fábio, Rogério
ajuda o filho a contar o fato para Suzana, sua esposa e mãe do adolescente.
— Suzana, nós precisamos conversar um assunto sério.
— O que houve, querido? Disse Suzana um pouco assustada.
— Bem, Fábio irá contar.
O futuro jovem pai se aproximou da mãe, que bordava uma toalha de banho. Isso que era um dos passatempos favoritos dela.
— Mãe, eu vou falar de uma vez porque é um pouco difícil para mim.
— Vocês dois estão me assustando.
— Bem, a Catarina está
grávida.

***

 Na casa de Rita, Tereza sua
mãe tenta especular algo.
— Querida, você ouviu uma gritaria na casa da Helena?
— Não mãe por que?
— Tive a impressão de ouvir Catarina gritando. Você não está sabendo de nada?
— Não mãe, para de querer saber da vida dos outros.
— Não é isso querida, estou apenas preocupada. Acho que vou lá ver se precisam de ajuda.
— Mãe, não! Para de ser
curiosa.

*** 

Na casa de Catarina a
conversa pegava fogo. — Como você foi
engravidar, Catarina? — A senhora sabe muito
bem mãe. — Catarina! Respeite a sua
mãe! — Ah!
Helena avança para cima de Catarina, mas Ricardo a segura e a puxa para o outro quarto.

*** 

Na casa de Fábio...
— Meu filho e agora?
— Eu nao sei, mãe. Mas Catarina deve vir morar aqui daqui há um mês. O celular de Fábio toca. Ele atende e ao desligar diz...
— Bem, mudança de plano, Catarina contou para os pais e brigou com eles, ela está vindo agora...


Continua na próxima edição.

Catarina

Capítulo 2




No primeiro capítulo, o Sr. Ricardo, pai da adolescente, anuncia que serão removidos dentro de um mês e Catarina não se conforma em ter que deixar o bairro, além disso, esconde algo muito importante de todos. Após brigar com a família durante o jantar corre para seu quarto e é acompanhada pelo pai que tenta descobrir o que está acontecendo com a filha.



...Chegando ao quarto Ricardo viu a filha debruçada na cama aos prantos. Pensou em um montão de coisas para dizer, porém só conseguiu sentar ao lado da filha e abraçá-la.
— Pai, eu não quero ir.
— Calma, minha filha. Vai dar tudo certo.
— Não pai, não vai, eu não posso, agora não dá para mudar. —  Catarina disse isso em um tom estranho deixando o pai desconfiado.
— Filha, o que está acontecendo? Todos aqui em casa estão estranhando o seu comportamento, você não costumava ser assim.
— Não está acontecendo nada, é impressão sua.
— Não é impressão. Se você não quer falar tudo bem, mas eu sei que você está escondendo algo.
Catarina ficou pálida, não sabia o que falar, o pai levantou e saiu. Ela ficou sentada em sua cama, abraçada com um coração enorme de pelúcia que havia ganhado no dia dos namorados.
— Ai meu Deus! E agora? Como vai ser? O que eu vou fazer?
***
Pela manhã inicia novamente a rotina diária: pai e mãe vão trabalhar, as crianças vão para escola, porém Catarina não entra para a aula e obriga Fábio a bolar aula com ela.
— Catarina, o que está acontecendo?
— Fábio, senta aí porque o que eu vou dizer agora vai ser forte...
***
Catarina chega em casa, corre para o quarto e liga para Rita, sua melhor amiga.
— Olá, Catarina.
— Oi, Rita.
— Nossa, que animação — exclamou ironicamente.
— É, o clima está tenso aqui em casa.
— Seus pais descobriram?
— Não, eu já estaria na rua.
— É, e agora amiga?
— Agora eu não sei. Estou tão confusa, amanhã a gente conversa na escola.
— Tudo bem, até amanhã. Beijos!
A campainha toca e Helena vai atender.
— Oi Tereza, como vai? — Disse Helena abrindo a porta nem um pouco feliz com a visita. Tereza era uma vizinha fofoqueira, isso era um dos motivos que a alegrava pela remoção.
— Estou ótima, Helena. E você como vai?
— Estou bem, entre. Aceita um cafezinho?
— Claro. As duas vão para cozinha. Helena serve o café em uma belíssima xícara de porcelana com rosas pintadas e a borda dourada.
— Xícara bonitinha. Comprou no 1,99, no centro?
Helena olhou bem para ela, contou até 3 e respondeu.
— Não querida, foi um presente de casamento.
— Nossa, quem deu devia te odiar! É meio sem graça.
— Quem me deu foi a minha mãe.
Durante alguns segundos um silêncio invadiu a cozinha, porém Tereza voltou a falar como se nada tivesse acontecido.
— E as crianças como estão?
— Estão bem, graças a Deus.
— Catarina está cada vez mais linda! A vi hoje com o namoradinho em uma praça perto da escola. Ela não foi à aula hoje?
Helena não sabia o que responder e ficou calada. Tereza continuou:
— A minha menina não perde um dia de aula. Você sabe que a Rita é muito dedicada aos estudos! Eu já vou indo.
— Eu te levo até a porta — disse Helena com um lindo sorriso falso. Quando Tereza sai Catarina passa pela sala.
— Como foi o dia de aula hoje, filha?
— De novo essa história, mãe! Helena olha para filha, pensa em dizer um monte de coisas, mas resolve disfarçar.
— Me desculpe, filha. Não vou voltar com essa história.
***
Fábio chega à casa da namorada para o jantar.
Quando todos estavam à mesa para comer, o pai anuncia...
— Semana que vem nós vamos conhecer nosso apartamento.
— Eu não faço a mínima questão. Disse Catarina.
— Por que não? Retrucou o pai ficando nervoso.
— Porque... eu decidi que não vou.
— Como não vai? — Gritou o pai batendo na mesa.
— Não vou, eu vou ficar!
— Eu posso saber onde vai ficar?
— Na casa do Fábio.
Este que se engasga e olha para Catarina assustado.
— Você só tem 16 anos, deve obediência a mim e a sua mãe.
— Eu não sou mais criança, já me decidi.
— Então vamos ver. — Disse o pai com um ar de autoridade.
— Catarina, o que você está fazendo?
— O que foi, Fábio não vai me aceitar? Você sabe que tem que me aceitar.
— Por que ele tem que te aceitar Catarina? Indagou o pai...

Continua...

Para iniciar... Um pouco de nostalgia

 Irei postar os capítulos da novela “Catarina”, ela faz parte dos primeiros textos que escrevi para que realmente outras pessoas lessem. Eu tinha apenas 16 anos e comecei me aventurar no mundo das letras. Quero aproveitar para agradecer ao Legionário Marcio Vidal Marinho que me orientou em todo processo.
Na época (2011) a novela saía mensalmente no Jornal “Morro Vivo! Viva o Morro!” e para minha surpresa foi um sucesso. Espero que gostem, aí vai o primeiro capítulo.

Catarina

Acompanhe a vida da jovem Catarina que está passando pelo processo de urbanização nos bairros Cota.


− Essa casa vive bagunçada, parece que eu sou escrava da casa. Chego cansada do trabalho e ainda tenho que me virar sozinha − disse a mãe apanhando os brinquedos que as crianças tinham espalhado pela sala, depois de ter limpado o sofá que Sofia havia derramado salgadinho.
Chega o pai da oficina com o macacão cheio de graxa e se joga no sofá.
− Ricardo! Saia desse sofá que eu acabei de limpar gritou a esposa ficando com as bochechas vermelhas e indo em direção ao marido com cara de quem ia matar alguém.
− Helena, eu to cansado, me matei hoje no trabalho.
 − Eu também me matei hoje no trabalho, porém tive que ressuscitar para me matar de novo nesta casa. No meio da gritaria chega Catarina que fica parada olhando os pais e balançando a cabeça  com um semblante bem triste. Ricardo percebe a chegada da filha e rapidamente muda de assunto.
 − Oi filha, tudo bem? Como foi o seu dia?
− Normal, por que está me perguntando isso?
− Por nada querida, só curiosidade − respondeu o pai sem entender a reação da filha.
− Filha, como você está?
− Normal mãe, eu já disse, vou pro meu quarto. − Catarina foi saindo em direção ao quarto, porém no meio do caminho se desequilibrou, dando a impressão que estava tonta. A mãe correu para ajudá-la, mas ela não aceitou. Usou a franja comprida dos seus cabelos para esconder os olhos de quem tem algo a esconder.
− Essa menina me preocupa, Ricardo.
− A mim também, querida...  Ah! Quase ia me esquecendo, hoje tive uma reunião com a CDHU na hora do almoço.
Quando falou essas palavras, Helena gelou derrubando sem querer o bibelô que limpava em cima do tapete vermelho e felpudo que impediu que a bailarina de gesso se despedaçasse em inúmeros pedaços, mas disfarçou de um modo que ele nem notou seu nervosismo.
− E como foi a reunião?
− Bem, vamos ser removidos daqui um mês.
− Como? Um mês?
− Sim, um mês.
− Mas... como... a casa... os vizinhos... em um mês! Não dá... a Célia... nem vou ter tempo direito de me despedir... tão boa vizinha... e as amiguinhas da Sofia... a transferência da escola das crianças... Oh meu Deus, e Catarina? ela vai ficar tão triste, é tão sensível, mudar de lugar vai mexer muito com ela.
− Eu sei, mas não podemos fazer nada, estamos em área de risco.
− Batalhamos tanto para construir esta casa.
− Eu sei, mas se acalme, vai dar tudo certo − nesse momento passa Sofia, logo atrás vem Igor com uma panela e gritando:
− Ou brinca comigo ou te dou uma panelada na cabeça!!!
Sofia e Igor ficam correndo em volta do centro da sala e Igor acaba dando um chute na bailarina de gesso que havia caído no tapete, o pobre bibelô se espatifa na parede da sala.
− Vocês dois, peguem uma vassoura e limpem a bagunça que fizeram! Estão de castigo por uma semana sem TV − esbraveja o pai. Sofia não tinha culpa, mas por obediência foi pegar a vassoura com Igor.
Ricardo ia em direção ao banheiro quando a campanhia tocou.
 − Eu atendo disse o pai abrindo a porta. Olha quem está aqui. Como é que vai Fábio?
 − Vou bem, seu Ricardo. O senhor como vai?
− Vou bem, meu filho.
− Catarina está?
− Está sim, entre − ao entrar se deparou com Sofia e Igor limpando a sala.
− Oi Fábio, como você esta? Cumprimenta Catarina.
− Estou ótimo Cá. − Os dois saem em direção à varanda.
− Quem está ai?
− O Fábio, querida.
Na hora do jantar o pai resolve dar a notícia a todos sobre a remoção.
− Pessoal, hoje tive uma reunião com a CDHU e vamos ser removidos daqui um mês.
− Um mês? Indagou Catarina com voz trêmula de choro.
− É, minha filha, um mês.
− Mas pai... É muito pouco.
− Pouco para que, Catarina?
− Ah pai... você sabe... pouco pra tudo, disse Catarina parecendo um pouco nervosa.
− Não temos muita opção, nossa casa está em área de risco. Catarina abaixou a cabeça escondendo os olhos com a franja comprida como costuma fazer, mas percebendo que as lágrimas iam ultrapassar o tamanho da franja correu para o quarto. Fábio ameaçou se levantar, porém Ricardo se adiantou e foi atrás dela...
(Aguarde a continuação nas próximas postagens).






Duda Matias Brito, estudante de Comunicação Social – Jornalismo na Faculdade de Comunicação e Artes da Universidade Santa Cecília. Também atua com Fotógrafa e Designer Gráfica. Cursou oficina de Rádio/TV/Jornal oferecido pelo Projeto Com Com (Comunicação Comunitária) e Instituto IVOZ. Participou de diversas coberturas de eventos e produção de videorreportagens.

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